29/04/2014
Um rio seco é como a alma
UM RIO SECO É COMO A ALMA
Um rio seco é como a alma
De um poeta que não pode escrever, embora conheça
Quase perfeitamente o tema e as mágoas
Da morte ressequida pelo estio. Mas o que queria,
E foi outrora um mar do mais puro cristal
Recua, torna-se sombrio como arbustos amoniacais, como
___________as folhas antigas do amor,
E abandona o pensamento. Não imagina
Nada que o possa substituir: só no pólo
Da memória oscila uma absurda bússola.
Por isso o rio, entre as lamentáveis árvores sombrias,
É uma agonia de pedras, de horrores submersos
Agora revelados, descoloridos. Por isso existem estas,
Estas pedras, estas ninharias
Quando o rio é uma estrada e a mente um vazio.
Malcolm Lowry
(Tradução de José Agostinho Baptista)
As cantinas e outros poemas do álcool e do mar, Assírio & Alvim, Lisboa, Março de 2008
27/04/2014
24/04/2014
La marée haute
LA MARÉE HAUTE
de um lado o acordeão, a viola do outro
balanceando-se numa cadência
de maré alta
debate-se um corpo na areia,
mains de dentelle, figure de bois,
dá três passos e entrega a cruz
o seu pano branco. nisto ergue-se
outro corpo, escala a onda
num vestido negro, enquanto a voz
vai girando no circo
o cântico que partilha com as águas.
várias faces da mesma nostalgia do mar.
Renata Correia Botelho
Small song, Averno, Lisboa, Setembro de 2010.
22/04/2014
Sobre a nossa morte bem muito obrigado
“Cansado de escutar o sangue a ranger nas curvas apertadas do coração, acalentas o sonho:
um barco no mar a afundar-se: sem capitão, sem ratos, sem espavento
um único tripulante a bordo: tu”
Rui Caeiro
in Sobre a nossa morte bem muito obrigado, Alambique, Lisboa, 18 de Abril de 2014.
19/04/2014
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12/04/2014
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