30/03/2014

Eclusa 01 : Acabamentos de Primeira, de Rui Caeiro


A segunda leva dos “Acabamentos...”, com todos os seus exemplares já devidamente numerados e assinados, está pronta a sair à rua.


27/03/2014

Biografia | Rui Caeiro

Rui Caeiro - fotografia de Changuito

Acerca de Rui Caeiro;

"Tem fãs por onde passa, pelo menos junto dos que olham com atenção. Usa o silêncio como generosa estratégia. Estudou direito. Tem filhos, netos, amigos. Gosta de ler e de comer. Dorme cedo. Leu tudo. É um sábio."

As palavras são obra e graça do Changuito, também autor da fotografia (tirada há escassos anos atrás, na entretanto - e infelizmente - extinta livraria Poesia Incompleta).

25/03/2014

Do primeiro livro do autor

SOBRE DEUS,
SOBRE O MAGNO PROBLEMA DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Quando eu era pequenino e Tu existias não era entre nós muito grande a distância e mesmo a diferença, se exceptuarmos a de não fazeres nunca chichi na cama. Depois as coisas complicaram-se: foste ficando para trás, não cresceste; eu cresci, não tive outro remédio. A morte tomou posições. E quando a morte se instala...

*

Atravancaste, mais do que o razoável, muitas vidas. Não se trata de te criticar os excessos, cada um afirma-se ou apaga-se como pode. Mas pensando nas vidas (atravancadas...) de tanta gente – os doentes e os timoratos, mas também os ignorantes e os distraídos- facilmente se acaba perguntando por quê. Aqui para nós, não seria por que atravancando inchavas e inchando ganhavas existência?

*

A estranha leveza que dás aos que não acreditam em Ti só pode ser da ordem do sobrenatural. Quanto mais não acreditam, mais leves se sentem. Quanto mais Te ferem (pensam que Te ferem) mais voam.

*

Senhor Deus que não existes, porque não existes, contigo o jogo é sempre limpo e inocente.
Até quando?
Até quando a tua inexistência perdure, ou a nossa paciência se canse, ou alguém apareça a estragar a brincadeira.
Mas quem?

*

Distinguem alguns espertos os que confiam em Deus e os que confiam na inexistência de Deus. Estes seriam os não assumidos, os devotos envergonhados.
A esses pobres escolásticos, porque não merecem mais, diremos tão-só:
Assim como há existÊncias apagadas de que ninguém se apercebe, nem elas, assim há também inexistÊncias que dão muito que fazer.

*

Não conheço muitas provas da bondade divina. Mas não posso esquecer que até aos maus poetas Deus concede, aqui e ali, a graça de um bom verso. Prodigialidade? Mera distracção? Pura bondade.

*

Outra Oração

Senhor que tudo sabes e podes
e nada fazes e ainda bem
livrai-nos das prostitutas mais irresistíveis
e dos padres que tudo perdoam
e dos poetas que têm missão a cumprir
mas principalmente livra os outros
livra todos os outros
dos inúteis sonhadores pretensiosos
inveterados bêbados como Tu e eu

Rui Caeiro

In Sobre deus, sobre o magno problema da existência de deus, Edição do Autor, Lisboa, Dezembro de 1988.

23/03/2014

Eclusa 01 : Acabamentos de Primeira, de Rui Caeiro

fotografia de Mariana Pinto dos Santos


“Acabamentos de primeira” encontra-se, até à data, disponível apenas na Paralelo W e na livraria Miguel de Carvalho - livreiro antiquário, em Coimbra (sendo também possível fazer a sua encomenda através do nosso e-mail: edicoeseclusa @ gmail.com).

(Fotografia da autoria de Mariana Pinto Dos Santos, tirada durante a cosedura dos exemplares, no Homem do Saco)

20/03/2014

Excerto | Acabamentos de Primeira, de Rui Caeiro

Rui Caeiro - fotografia de Inês Dias

« E o fim, em vez de, como era sua obrigação, pôr um termo à história, substitui-se-lhe, ganha vida própria e prolonga-se no tempo.
Deixa de haver história. No sentido em que o fim da história não chega a repegar nela, história, porque ela afinal de contas está morta, mas como que pega em si mesmo, fim, para continuar a fazer das suas (das suas próprias tripas coração).
À míngua ou à falta de história – para viver, para compartilhar, ou pura e simplemente contar – o fim da história, substituindo-se-lhe, incha e alimenta-se de si mesmo, autofágico.»

Rui Caeiro
in ACABAMENTOS DE PRIMEIRA

(Fotografia do autor por Inês Dias)

16/03/2014

Eclusa 01 : Acabamentos de Primeira, de Rui Caeiro


Eclusa 01 : Acabamentos de Primeira, de Rui Caeiro

O livro estará, de Terça- Feira em diante e até dia 23 (por ocasião do Mal Dito, em Coimbra) à venda exclusivamente no Paralelo W.


Paralelo W
Rua dos Correeiros,
60 - 1º Esq
Lisboa

Para dar o tom, o timbre do que aí vem...



14/03/2014

Edições Eclusa

As Edições Eclusa propõem-se a publicar apenas e tão-só originais (ou, quanto muito, traduções em primeira mão).

Isto sempre em tiragens reduzidas e sem reedições à vista, com todos os exemplares numerados e assinados pelo(s) seu(s) autor(es).


O primeiro livro (a ser impresso, guilhotinado e cozido por estes dias) será aqui anunciado no início da próxima semana, com direito a uma breve foto-reportagem (ou assim esperamos).




13/03/2014

O MAR | Henri Michaux



O MAR

O que eu percebo, o que é meu, é o mar indefinido.
Aos vinte e um anos, evadi-me da vida das cidades, aventurei-me, fui marujo. A bordo havia muito que fazer. Fiquei espantado. Pensava que num navio a gente fitava o mar, que infindavelmente fitávamos o mar.
Os barcos foram depois desaparelhados. Era o desemprego dos marítimos que assim começava.
Voltando as costas àquilo, fui-me embora, não disse nada, tinha o mar dentro de mim, o mar eternamente em meu redor.
Mas qual mar? Foi isto justamente que eu depois me vi impedido de explicitar.

Henri Michaux
(Tradução de Júlio Henriques)
in O retiro pelo risco, Fenda Edições, Lisboa, Setembro de 1999.

Jacques BREL-L'éclusier


Não é cousa de somenos
operar uma Eclusa ...